sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A verdade por trás da história da Carochinha

Era uma vez um rato chamado João, que andava um pouco perdido na vida e precisava de arranjar noiva. Tinha tudo a seu favor para arranjar a fêmea da sua vida: um bom emprego (era provador de queijos numa fábrica de queijo limiano...), uma boa casa (um buraquinho bem apetrechado num dos recantos mais tranquilos da fábrica), roupas boas (pêlo sempre bem tratado, de uma cor castanho-acizentada). O único problema do João é que não gostava de ratas. O João era perdido por insectas. Ele era centopeias, bichas de conta, gafanhotas, escaravelhas, a formiguita ocasional... e a grande tara, a maior de todas: as carochas!

Acontece que no burgo onde vivia o João havia uma carocha toda boazona (para ele, pelo menos) que tinha posto um anúncio no jornal "A Vespa Épera" em que dizia: "Carocha Carochinha, morena, lindona, meiga, pretende arranjar marido. Junta fotografia.". O rato João passou-se com o ar sexy daquela carocha. Vai daí, o rato João mete-se nas suas tamanquinhas e decide averiguar onde vivia aquela sua Dulcineia...

Passaram-se vários dias, mas o rato João não conseguia encontrar a carocha Carochinha, a carocha dos seus sonhos, a carocha da sua inspiração em momentos solitários na casa de banho...

Eis senão quando, passando por um prédio, ouviu uma voz fininha vinda do primeiro andar: "Ai... quem quer casar com a Carochinha... que é tão linda e amorosa e tudo o que um marido precisa..."

O rato João ficou siderado com aquela voz... sentiu um frémito na cauda, um tremor nos bigodes, uma vertigem... mas compôs-se, olhou para cima e disse-lhe: "minha Carochinha! a minha paixão, o amor da minha vida... casa-te comigo! sou um rato honrado, trabalhador, bem colocado na vida. nada te faltará. casa comigo!"

A carocha Carochinha ficou de olhos arregalados, pois, por coincidência, ela nunca gostara de carochos. Sempre tivera pancada por mamíferos. Cães e gatos foram as suas paixões de adolescência, mas o seu grande sonho, o mamífero que a fazia tremer as antenas era o rato. Adorava ratos! Babava-se por um rato com bom pêlo e aquele tinha todos os predicados.

O noivado foi curto. Em menos de um mês tinham tudo organizado. A comunidade ficou siderada com aquela união, mas não era invulgar haver uns casamentos inter-espécies. A união mais comum era entre carrapatos ou pulgas e cães ou gatos, mas eram casamentos que duravam pouco, pois acaba por vir ao de cima a personalidade "sanguessuga" daqueles insectos. Não raras vezes os casamentos terminavam em tragédia... (mas isso são contas de outro rosário...)

No dia combinado, lá estava a Carochinha de vestido de noiva e o rato João com um pêlo todo reluzente e lá se dirigiram ao altar. Depois da ladaínha do costume, estavam casados e toca de tirar as fotografias da praxe e ir para a festarola que a Carochinha tinha preparado. O 'ménu' consistia, entre outras coisas, num consomé de aves,que tinha a fama de ser tremendamente saboroso.

O rato João, conhecido pela sua goludice, e como não tinha comido nada antes do casório porque estava muito nervoso (enfim... é normal, não?!), não esperou que trouxessem a comida e assim que entrou no salão de festas, foi a correr para a cozinha - onde estava o panelão do consomé, feito pela sua amada Carochinha - para roer qualquer coisita.

A Carochinha, por seu lado, também estava esfaimada porque tinha levado o último mês a jejuar para caber no magnífico vestido de noiva da afamada estilista Viviane Wormwood, e também foi a correr para a cozinha, para escarafunchar algum pitéu.

Entraram os dois naquela pressa, e no momento em que se olharam a fome passou e foram consumidos pelas labaredas da paixão. Ali, naquele momento, decidiram consumar o casamento. E que melhor sítio, que em cima do panelão de consomé?!

O pior é que o rato João, na auge da paixão, fez com que a tampa se virasse e tanto ele como a sua amada Carochinha caíram dentro do panelão e...

... foram empratados e comidos pelos restantes convivas que levaram o tempo todo a perguntar onde raio andariam os noivos!

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E porque todos falaram no assunto e as criancinhas não podiam agora saber de cenas de sexo e canibalismo, adaptou-se o conto para a forma pouco linsojeira para o rato João aka João Ratão.

4 comentários:

Anónimo disse...

gostei especialmente da parte em que foram "consumidos pelas labaredas da paixão e consumaram o casamento em cima do caldeirão de consomé." uma pessoa quase que visualiza a cena =)

Ana disse...

"Passaram-se vários dias, mas o rato João não conseguia encontrar a carocha Carochinha, a carocha dos seus sonhos, a carocha da sua inspiração em momentos solitários na casa de banho..." . Eu confesso que rebentei a rir nesta parte, principalmente porque tinha um dos sobrinhos a ler a história e me pediu explicações pois não percebeu...

PKB disse...

RBM,
Consegui o que queria, então =)
Obrigada!

Ana,
E que lhe disseste? =)

cat in a bag disse...

É muito, mas muito melhor do que a que conhecia! XD