Quando era miúda, ouvia muitas vezes os adultos dizerem "no meu tempo era assim...no meu tempo era assado". Achava piada e ao mesmo tempo intrigante aquela observação de que "no seu tempo" as coisas eram diferentes. Na minha cabeça, o tempo dos meus pais tinha sido havia muitos anos e o tempo dos meus avós perdia-se lá para trás, numa época que para mim não era possível conceber ou medir em números.
Afinal, qual é o nosso tempo? O da infância? O da adolescência? O da universidade? O da nossa idade adulta até atingirmos a idade da reforma? Ou teremos nós vários tempos, todos compartimentados em fases?
O que me leva a fazer estas reflexões é o facto de ser eu, agora, a dizer em vários contextos "no meu tempo..." Digo-o a miúdos de 17-18 anos, quando se fala de escola ou de saídas à noite; digo-o a pessoal universitário, quando se fala de exames, de métodos de estudo; digo-o para mim mesma quando confrontada com crianças e as suas avarias; e até o digo quando falo do início da minha idade adulta. Os tempos mudaram em tudo e não há como contornar esse facto.
Mas dar por mim a dizer sentenciosamente "no meu tempo" faz-me confusão. O meu tempo também não é este? O tempo da Internet, dos smarphones, iPhones, tablets e iPads? O tempo da televisão 24 horas por dia, 7 dias por semana? O tempo de ser solteira sem ser apelidada de solteirona? O tempo de de me lembrar de outros tempos?
É porque daqui a uns anos, quando for velhinha (espero lá chegar com alguma integridade física e mental) eu direi, inevitavelmente, aos adultos da minha idade "no meu tempo..." Só resta saber até que ponto é que as coisas terão mudado, e com que tom é que o direi. Espero dizê-lo em tom de "no meu tempo as coisas eram mais difíceis... mas ainda bem que vocês estão muito melhor!"
Entretanto, vou fazer do tempo presente o meu tempo. O tal tempo de que irei falar quando envelhecer mais uns 30 anitos... Assim Deus me dê força e saúde!